A Parte II deste depoimento constitui a transcrição do áudio visual registado em Luanda. Os audiovisuais são transcritos por objectivo etnográfico mas também para aproximar as fontes digitais a população com menos acesso a estes meios, sobretudo devido ao elevado valor da internet em Angola, pois baixar um texto é mais econômico do que visualizar um audiovisual. As partes se complementam, criando a possibilidade do depoente aprofundar e detalhar memórias mais relevantes e mais avivadas, por essas razões o leitor encontrará factos repetidos, mas também diferentes, à semelhança da leitura de uma narrativa e da passagem do papel para o áudio. nesta fase de aprendizagem e de adaptação dos métodos acadêmicos nos permitimos colectar e divulgar detalhes com o fito de transmitir a investigadores e analistas um passeio entre ambos os métodos de recolha de memórias, o segundo com questões directas, tempo cronometrado e com a intimidadora câmera de vídeo e o primeiro onde o depoente dispos de varios dias para discorrer as suas memórias, somente a um entrevistador, conversando, onde o risco eminente do entrevistador se tornar o entrevistado se torna uma realidade da colecta da memória oral.
Contexto
Eu chamo-me Maria Rufina Ramos da Cruz Gomes dos Santos, nasci na província do Cuanza Norte, em Ambaca, em 1932 e vivi lá aproximadamente até aos dez anos, em 1942 o nosso pai morreu e já tínhamos um irmão a estudar aqui em Luanda.
O nosso pai era de origem espanhola, tinha várias roças de café e em cada roça tinha uma mulher e foi a minha mãe que estava na altura no sítio onde morreu, na última fazenda, era a mais nova, as outras mães só tinham rapazes. E o meu irmão para não ter de desagradar as outras madrastas vem com três irmãos, dois rapazes e eu a menina.
Vivemos em Luanda desde 1942, o meu irmão já era funcionário de Fazenda na altura, era recebedor, houve o concurso e ele fez e ficou em primeiro lugar. Como era no tempo colonial, o funcionário não podia ficar muito tempo na província, ele é transferido para a vila Mariano Machado, Ganda.
O meu irmão não podia levar os três irmãos porque ele casou-se, já tinha uma afilhada em casa, não podia levar mais gente, uma pessoa que ia para uma terra estranha. Naquele tempo em 1950, havia muitas dificuldades, mas as nossas províncias tinham pequenos vilarejos como as comunas de hoje. Pegou nos meus irmãos e voltou para N´Dalatando, Kuanza norte, antiga cidade de Salazar, foi aos nossos kimbos e os nossos outros irmãos ficaram com o nosso tio Fernando Coelho da Cruz, éramos vizinhos. Para a Ganda fui eu, o meu irmão Manuel Ramos da Cruz, a minha cunhada Maria Bento e a filha dela a Filomena. Fomos para a Ganda em 1945-46, permanecemos até 1950, na altura chamava-se Serviços de Fazenda e de Contabilidade.
O Comboio Operário de Luanda, 1940
Nós éramos três irmãos, moravamos próximo a Mutamba que agora está modificada “conhecem o Serviço de Fazenda e Contabilidade, conhecem aquela rotunda Serpa Pinto e o Governo Provincial (antigamente era Câmara Municipal), nas Ingombotas”,onde passava a linha férrea abaixo do Liceu Salvador Correios que ia até ao Bungo, próximo ao Cinema Tropical, ali há umas casas pequeninas e em 1940 era onde estava a estação de caminho de ferro.
Todos os dias de manhã o comboio operário levava os trabalhadores ao Bungo para trabalharem na construção do Porto de Luanda, saia de manhã e deixava cair carvão ao longo da linha. Os meus irmãos mais novos e eu que altura tinha dez anos e eles onze e nove, em 1940-42, os meus irmãos de manhã levantavam-se muito cedo às seis da manhã para apanhar o carvão na linha férrea para acendermos o fogareiro de carvão para fazermos o pequeno almoço, eu tinha o trabalho de acender o fogareiro em ferro, auxiliando-me de um abano ou outra coisa, para fazer o pequeno almoço.
Quando o meu irmão é transferido para Benguela, não podia levar a todos, já tinha a mulher, a filha, a mim, para um recebedor, eram jovens como vocês, não nos podia levar a todos para uma província que não conhecia então, nós somos do norte íamos para o sul o que é que ele podia fazer? Fomos deixar os meus irmãos no kwanza norte.
A Pré-Primária em Angola, 1943
Eu andei na Escola da Aplicação, esta escola estava próxima a Casa Americana, onde agora há um prédio grande próximo às obras públicas. O meu irmão Alberto andou na escola metodista que ainda existe próximo ao São José do Cluny e o meu irmão Afonso andou na escola que está em frente ao posto médico à frente da Câmara Municipal, andamos em escolas diferentes em 1943.
Não chegamos a fazer a quarta classe, nós não falávamos português, falávamos o nosso quimbundo lá da aldeia, primeiro tivemos que nos integrar no novo ambiente. Com a morte do nosso pai houve realmente uma mudança muito brusca, mas não tínhamos outra solução.
Crianças rurais em Luanda, anos 1940
O que marcou a minha vida acho que foi a mudança, foi muito brusca, porque as nossas mães estavam habituadas aos filhos , eu era a única menina passava o tempo no colo, a fazer aquilo que quisesse entendesse, não estudava, só falava o nosso quimbundo, andávamos no bairro já viu o que é vir para Luanda? O nosso português era um “português de macarroni”, por acaso nunca reprovei, adaptei-me bem. Aprendemos o português na escola, o meu professor o Dr. Camilo era muito paciente, reconheceu que eu tinha perdido o pai e tinha tido uma mudança brusca, teve muito cuidado e ensinava-me muito bem. Já tinha dez anos quando estudei a primeira classe, já sabia lavar pratos, sabia fazer algumas coisas.
O Método da destreza manual
Agora, o que me marcou a mim foi como a iniciação no tempo colonial se fazia com as pessoas com dificuldades ou que não sabiam português, como se fazia a destreza manual “nós vamos para a escola sem saber nada e o professor Camilo ensinou a fazer as bolinhas, pegar no lápis só a fazer bolinhas quer dizer destreza manual. Quando ele verificou que eu já conseguia fazer as bolinhas “a destreza manual, o caderno todo só fazer bolinhas” ensinou-me a fazer o “a”, faz uma bola, uma perna, uma bola, uma perna… punha mal, punha bem”, até que consegui fazer. Todos se admiram com a minha letra, até mesmo hoje com 90 anos, letra desenhada porque o Doutor Camilo ensinou-me bem a destreza manual.
Aprendemos a fazer o alfabeto, o meu irmão foi transferido, perco um professor bom, o para a vila Mariana Machado, Ganda. Como só estivemos dois anos em Luanda, não foi possível fazer a iniciação porque estávamos a começar a aprender as letras e o abecedário.
Separo- me dos meus irmãos! À noite, enquanto estávamos todos juntos, embora estudasse-mos em escolas separadas, encontrámo-nos à noite e preservava-mos aquele ambiente do mato, o pior foi quando me separei deles. Fui com a minha cunhada, a minha sobrinha era bébé.
Ensino Secundário em Benguela
Fiz o secundário em Benguela, no tempo colonial o funcionário não podia ficar muito tempo em um sítio, esteve lá quatro anos. Como era do kwanza Norte tinha de fazer concursos para subir de categoria e ficou bem e é transferido novamente para o kuanza Norte, mas ele nega o Kuanza Norte porque nós estávamos a estudar no colégio das madres e para não mudarmos de ambiente preferiu pedir para ser transferido para Benguela porque a Ganda é na província de Benguela e ele pede ao governo, ao governador Marcos Mano. Nós estávamos em um colégio das Madres na Ganda e o governo aceitou e então saímos da Ganda para Benguela onde permanecemos quinze anos.
Estudamos no colégio das Madres onde fiz a sexta classe, antigamente era o segundo ano, já tinha dezessete anos. Faço a sexta classe “eu gostava muito, não sei foi a inclinação que me deu, tínhamos uma vizinha que era enfermeira transferida de Luanda para Benguela e fez um posto sanitário em casa dela para atender as pessoas humildes em Benguela e por vezes chamava-me para cortar os pensos já tinha dezessete anos” e aquilo influenciou-me muito cedo e na decisão de fazer o curso de enfermagem. Por sorte faço dezoito anos e em Benguela ficava em casa sem fazer nada até matricular-me no curso de enfermagem.
Escola de Enfermagem
Entretanto, o governo abre o concurso de enfermagem, o meu irmão comunicava falava via expresso, por Alfabeto Morse de Benguela para Luanda, o tio Zé Van Dúnem muito amigo do meu irmão e irmão da Guidinha que era minha vizinha avisa ao meu irmão que havia de abrir um centro de enfermagem em Benguela e perguntou-lhe “porque é que não matrículas a tua irmã Rufina, já que está ao lado da minha irmã Guidinha , para fazer o curso de enfermagem”.
Não passaram dois anos, os médicos que me fizeram a formação portuguesa, o Dr. Verdete Nadais de Vasconcelos, abre a Sociedade Agrícola do Cassequel em Benguela e faz um hospital, até hoje existe, se um dia passarem em Benguela e virem um edifício cor de rosa à beira da estrada foi lá onde eu comecei. Então, em Benguela estes doutores que me formaram são convidados por esta companhia agrícola para abrir o Hospital São Pedro da Catumbela, simpatizam-se comigo e foram pedir ao meu irmão que me deixassem ir com eles porque já estavam habituados a trabalhar comigo “esses brancos querem mazé uma preta para brincar”, não aceitou e a Guidinha aconselha o meu irmão “não faças isso Manuel, ela é menina, está em casa, não está a fazer nada, se ela fez o curso de enfermagem, não é para ficar só aqui comigo, deixa ela fazer a vida dela” e ele “esses brancos têm a mania de abandalhar”, não podia com os brancos nem pela lei da bala, eu respondi “não mano vou”. Mas, eu tinha uma educação caseira, orientada a gente também sabia se defender, já tinha dezoito anos, já lidava com outras pessoas então é lá deixou.
As Enfermeira e as Solex
Foi a melhor coisa que ele fez deixar-me ir trabalhar para o Cassequel, com o meu primeiro vencimento comprei uma Solex, ao invés de ir de comboio todos os dias de comboio passei a vir almoçar e às cinco da tarde, a Companhia de Açúcar pagava bem. Recebi o primeiro vencimento e o meu irmão disse “o dinheiro é teu”, então comprei a Solex, eu saia todos os dias de motorizada, ia quando quisesse “tuc tuc”, eu ia mesmo por ali, não faz a mínima ideia, todo mundo se admirava, foi muito bom.
As Festas
O nosso irmão levava-nos, porque antigamente as nossas festas eram festas familiares nós tínhamos o réveillon, as festas de aniversário, fazíamos mesmo festas com os nossos discos, bailes, dançávamos mas entre nós “filhos de família”.
Também, nos paqueravam, havia um rapaz que tinha a mania que queria casar comigo, mas não aceitei, eu cresci, mas não tinha ainda não tinha aquele entusiasmo de casar, sabia o que eu queria, eu tinha um instinto de querer prosperar na vida, não ficar emperrada com marido, casa, não queria.
Mas, o meu irmão era uma pessoa franca e transparente foi me mostrando os problemas da vida, quando viu que eu estava a crescer foi conversando. Devemos escolher bem, devemos escolher “filhos de família”, há sempre fricções e não dá. E eu segui, não tinha mais pessoas da família , nunca mais vi a minha mãe, só tinha este meu irmão que me criou, eu tinha de obedecer.
A minha cunhada era muito áspera, mas era uma senhora prendada. Nós tínhamos horas para tudo na nossa casa, hora para comer, para sentar, até para ler, por isso apanhei o vício de ler. Ela comprava livros, gostava muito dos livros da Madame Delly, dos outros já não me lembro, sempre que lançavam esses livros o meu irmão comprava.
E tínhamos aquelas obrigações caseiras, arrumar, lavar a loiça e aprender a costurar, aprendemos a fazer as nossas cuecas. Antigamente, os nossos sutiãs não eram comprados, eram feitos em casa, aprendemos a fazer crochet nos nossos sutiãs e nas cuecas. A minha cunhada realmente era uma pessoa áspera, mas ensinou-me e educou-me bem, conduziu-nos muito bem!
A nossa alimentação era muito diversificada até porque nós tínhamos criação em casa, a vida no sul é muito boa.
Estivemos quinze anos no sul, o meu irmão não queria sair, até temos lá casa, mas os governos iam mudando, teve mesmo de ser transferido e disse “eu prefiro ir para a minha terra onde eu nasci” e assim, voltamos para a nossa terra, eu ainda não era casada em 1959-60.
Mas, eu não fui com eles porque eu já era enfermeira e abriu o concurso, é assim que eu fico a residir em casa do tio Liceu Vieira Dias porque a Dona Guinhas era minha madrinha e eu já estava colocada no Hospital Indigena, inaugurado em 1960. Fiz parte da equipa de enfermeiros que montou o hospital, fui logo admitida, um dos meus primeiros serviços, além do Cassequel, onde trabalhei durante o tempo que estava em Benguela, fomos nós que inauguramos o Hospital Indígena.
A Educação Familiar
Primeiro temos de respeitar “se tu faltasses ao respeito, se tivesses que namorar a toa”, nós apanhamos de chicote de cavalo marinho “o meu irmão batia-a-nós com o cavalo marinho”, valeram a pena as chicotadas que apanhei de cavalo marinho, hoje sinto-me bem porque consegui ter os meu filhos e conduzi-os bem.
Mas também, tínhamos aquele respeito e medo de apanhar porque apanhávamos se fosses namorar a toa ou se fossemos apanhadas a namorar “era chamar o nosso cozinheiro ou o empregado de casa, o jardineiro, eram palmatoadas”. Tínhamos lá em casa o cavalo marinho, a palmatória “ainda vá lá”, mas com o chicote ninguém gosta de apanhar.
Em minha casa era muito regra e a irmã do Zé Van Dúnem a Guidinha era nossa vizinha, enfermeira, era uma funcionária tranquila, veio de Luanda, era mãe de filhos, tinha um ambiente familiar bem coordenado e conduzido. Não me deu aquela leviandade, tinha pretendentes, o X trabalhava nas Obras Públicas, mas, esse ainda foi pedir ao meu irmão, mas o meu irmão disse que não, que a família X era “família dos musseques aqui de Luanda, não tinham educação e maneiras” e eu obedeci. Foi muito bom porque ganhei primeiro aquele respeito e porque eu tinha medo de apanhar de cavalo marinho. Ele falava bem connosco, orientava bem a nossa vida.
Conte pormenores das idas ao Hospital de Catumbela dirigindo uma motorizada naquele tempo?
Então, saía de Benguela para Catumbela, as estradas eram boas porque é que eu comprei a Solex? Porque a enfermeira que eu lá encontrei, a que veio de Portugal, a dona Mariette tinha uma solex e a outra senhora enfermeira mais antiga da Catumbela, a dona Amélia Mesquita. Trabalhava na Sociedade Agrícola do Cassequel que era uma companhia de açúcar, “a dona Mariette a enfermeira mais velha tem uma solex e eu também mano quero comprar uma solex para não ter de estar à espera do comboio às cinco horas”. Assim, eu fui a primeira negra a andar de solex lá em Benguela e todas as pessoas ,aqueles nossos rapazes batiam-me palmas “uma preta de Solex”, punha o meu boné e vestia calças e ia bem.
Trabalhei com a dona Mariette que eram belíssimas enfermeiras mais velhas que me orientaram muito bem. que me orientaram e ensinaram-me muito bem, hoje fico grata.
Serviços de enfermagem nos Hospitais Maria Pia e Indigena
Fui transferida para Luanda, eu trabalhava principalmente com o Dr Verdete nas cirurgias e “sabe muito bem que uma enfermeira que põe a mesa de cirurgia tem de saber o nome dos ferros”, eu fazia aquilo de olhos fechados, ele não precisava de falar “ passe a pinça X, a pinça Y”, quando abrem a barriga de uma doente eles não falam é só passar as pinças, a enfermeira está ali só para passar as pinças que ele necessita. o Dr. Verdete não queria que eu saísse do Cassequel.
E pagavam-me tão bem, eu tinha um vencimento muito bom, pois o segundo vencimento deu para comprar a Solex. Pela educação da época o meu irmão disse que não, “vamos embora, não vou deixar-te aqui para os brancos brincarem contigo larga tudo” porque ele é transferido de Benguela para N ́ Dalatando, Kuanza Norte.
Naquele tempo, ninguém podia desobedecer, era o meu irmão, fiquei desempregada, fiquei em casa, isso em 1960 quando os angolanos ja queriam a independência, quando começamos a ouvir os “manos cambutas” que já mandavas “as bocas” aos colonos portugueses.
Mas depois, abrem mais um concurso público, e tive de pedir a demissão e como perdi o emprego tinha de concorrer, meti os meus papéis, era concurso de admissão de enfermeiras, umas para N´Dalatando outras para Luanda, eu fiquei em primeiro lugar com direito a trabalhar em Luanda. O meu irmão ficou zangado, fez tudo por tudo para não ir para Luanda e ficar em Ndalatando. Mas, sabe como o colono era, como são os portugueses, o que está determinado, está determinado “não, não ela concorreu e fica enfermeira de primeira classe e queremos inaugurar o hospital indigina”, eu vim para aqui devido este hospital.
Já havia as confusões dos “manos cambutas”, as confusóes da luta pela independência. Em 1960, venho para Luanda e vou para a casa da família Vieira Dias porque a dona Guinhas era minha madrinha e também porque havia lá em casa mais duas meninas: a Nina sobrinha do Liceu Vieira Dias e a Dina Stella. É aí onde eu conheci a Fátima e o Enoch, Nina trabalhava nos Correios.
Eu fiz o concurso em 1961 e foi nesta altura que houve o golpe de 61. Houve portugueses feridos em 61 e “fui eu” que os recebi no Hospital São Paulo. Ali havia muitos eucaliptos cortados pelos cubanos para fazer aquelas casas, é por isso que agora há muita água ali, os eucaliptos que bebiam a água foram demolidos, aqueles eucaliptos todos, é por isso que agora temos essas inundações, nunca tidas anteriormente.
O Racismo e a Saúde| O Saco de Carvão com Pernas
O episódio “saco de carvão com pernas” foi aqui em Luanda, no Américo Boavida. Mas antes, fui colocada no hospital Maria Pia, na secção de cirurgia porque vinha com muita experiência de Catumbela. Havia doentes de primeira classe, de segunda classe e os indígenas, o preto civilizado ficava na parte dos mulatos e o não civilizado ficava mesmo no hospital indigena. Então, colocaram-me aqui no hospital Maria Pia na secção de primeira classe onde só vinham os brancos e as brancas.
Fazíamos “a vela,” de manhã, tarde e noite e quando fazemos a noite, fazemos a folga o dia inteiro. Eu estava naquele corredor do Maria Pia, saí dos quartos de segunda classe para os da primeira classe o Dr. Nadais de Vasconcelos, não me esqueço do nome dele e ele:
- olá, olá, olá
No corredor, eu ia com o meu tabuleiro com as pinças. Não ligo “vou continuar a andar”, quase a chegar à porta da segunda classe “não vou apanhar uma censura”
– é comigo senhor doutor?
– então, quem é “o saco de carvão com pernas”?
– então, Sr. Doutor eu sou “saco de carvão com pernas”, não tenho nome?
– sim, desejo alguma coisa
– não tenho nome? está bem.
Quando eu ia voltar para saber o que ele queria, senão ia apanhar um castigo, ser expulsa “no tempo do colono não temos brincadeira”, senão tínhamos mesmo de “lavar as botas” , lá eu vinha com o meu tabuleiro
- então, precisa de alguma coisa senhor doutor?
- agora não preciso de nada seu “saco de carvão com pernas”.
Deu-me tanta vontade de dar-lhe uma chapada, passou-se. Entretanto, começaram a construir o hospital Américo Boavida por isso pedi transferência porque eu não poderia continuar a trabalhar com aquele doutor, um dia eu ia bater-lhe.
Outra, um enfermeiro estamos de noite de serviço no Maria Pia e eu estava a preparar a sala de cirurgia a mando do doutor e ele “tem de ficar assim, ah tem que ficar assim”- Eu estava a preparar a mesa e havia um enfermeiro bandido “ ele vem, finge, por trás para me apalpar, eu estava a pôr a mesa, ele vem finge-me que me vai abraçar e apalpa-me! Mandei-lhe uma “lamparina” na vista, tufa! Qual foi o meu castigo? O branco pôs-me em tribunal porque bati em um branco, verdade! Foi queixar-se porque bati em um branco. Houve julgamento, Eu sentei-me no banco dos réus, no julgamento, mas o doutor juiz olhou para mim e ele:
- Uma preta bateu-me!
e o juiz
- não, ela é que fala! o que é que aconteceu?
então eu expliquei
- estou aqui a trabalhar e ele pensa que é para ser brinquedo dele.
Sabia as pinças de cor e salteado quando os médicos quando fazem a cirurgia, nos as instrumentistas… ele só fala “de cocker, dente de rato” a instrumentista tem de conhecer todos as pinças de cirurgia (bisturi the cocker, o dente rato) e eu já vinha com experiência do Cassequel. A maior parte dos médicos cirurgiões gostavam que eu estivesse na sala.
O juiz olhou para mim, olhou para o senhor que foi fazer a participação… “até mandou indenizar-me”.
- a senhora fez muito bem, ninguém nasceu para ser brinquedo dos outros
- O senhor, fez ou não fez? Ninguém nasceu para ser brinquedo dos outros.
- Senhor juiz eu não ia bater no senhor enfermeiro por me vir a ajudar a pôr a mesa de cirurgia, ele tem que ser sincero, ele tem que ser sincero…
“Eu também era muito rabina, era muito reguila”, ele por acaso não mentiu.
- Você faltou o respeito, o senhor faz favor de indenizar.
Eu vim-me embora, olha “o branco” a querer pagar-me o dinheiro. Mas, o meu irmão não quis, não quisemos receber o dinheiro dele, ele que viesse receber o dinheiro dele.
Concelhos as Novas Gerações
Meus amigos eu penso que todos nós que estamos aqui somos já adultos, eu penso que a guerra, esta situação que nós vivemos a estabilidade que nós vivemos, o êxodo das famílias contribuiu um pouco para essa degradação de valores porque mesmo nós no mato no tempo das nossas mães, nós tínhamos respeito dos tios, de todos!
Mas agora, estas novas gerações do período pós independência, os pais com a situação de (…) ou porque não tiveram tempo… Porque o conceito de família degradou-se muito no país essa nossa geração pós independência, com o êxodo os pais… houve situações de abandonarem a suas áreas de vivência.
Mas não são só as escolas… è também o ambiente de família porque o conceito de família degradou-se muito no nosso país porque antigamente as nossas mães…
Não gosto muito de falar dos “bairros”, não cresci no meio de “bairros”, sempre cresci na cidade, no meio de “gente civilizada”.
Eu não condeno muito a juventude, mas condeno os pais que com a desestabilização do nosso país “eles não são conduzidos”, não tem tempo. O nosso país entrou realmente nessa desestabilização, a sociedade evoluiu e os pais não tiveram tempo. Aqueles os nossos valores de africanos, por exemplo, as minhas irmãs foram jovens, tive quatro irmãs mais novas casaram muito jovens, tiveram muitos filhos mas tudo debaixo de uma educação de família, a nossa família ficou desestruturadas, os pais não tiveram tempo as mães não tiveram base, não condeno muito, condeno a própria sociedade.
Realmente, depois da independência é certo que a guerra continuou, nós nos organizamos, nós mulheres que na altura já tínhamos uma certa idade começamos a organizar com ajuda das camaradas que vieram de maqui, isto é verdade, eu nao ja estava formada.
Quando as pessoas começaram a vir, foi assim que criamos a OMA, foi criada para ajudar as pessoas que vieram desregradas daqui e dali ,como é que mas, não estamos a conseguir? Temos a organização sim, estamos a conseguir mais realizações na parte política e não na parte social. Muitas vezes ainda me chamam e quando falo eu digo “eu não condeno a juventude mas condeno os pais”.
Nós também tivemos as nossas mães alnafabetas, os nossos pais eram camponeses, uns eram ricos porque tinham roças “o nosso café do kwanza norte aguentou o governo português”. O meu pai era agricultor, teve três mulheres e todas as minhas irmãs eram alnafabetas mas criaram as suas filhas “morreu a pouco tempo a minha irmã mais velha a mãe da Joana Lina, era analfabeta, mas ela era educada em casa, sabia que a menina quando se levanta de manhã…, e eram alnafabetas.
Nós assumimos a independência e achamos que a independência é libertinagem? Eu culpo os pais, não têm tido cuidado.
Houve um êxodo no país e aqueles que tinham consciência de que a juventude está a crescer, mas não é para fazer da juventude nossos brinquedos, senhores com mulheres…
Eu acho que o governo é que não teve regras de condução, o Dr. Agostinho Neto veio com organização, tínhamos conduzido bem o nosso país. A tia Eva Afonso, a tia Catarina Horácio e elas vieram do maqui, e no maqui trabalharam bem. Agora, veio o êxodo, a juventude começou a crescer, os responsáveis começaram a ter lugares de chefia, os pais começaram a abandonar as crianças, as mães começaram a zungar daqui para ali, digo aqui na capital. as mamas a que está no mato saem de manhã para ir plantar a lavrar, deitar alguma coisa na terra para sobreviverem.
Há crianças sem orientação. Digo isso isso porque por exemplo, o meu irmão morreu há dois anos e deixou-nos dezessete filhos, trabalhava na FTU conseguiu fazer muito dinheiro e conseguiu fazer filhos com muitas mulheres, mas não acompanhou o desenvolvimento dos filhos, as primeiras filhas são analfabetas. Teve seis mulheres e não acompanhou o desenvolvimento dos filhos, olhe estão aí! Recebi a mais novinha pequenina é técnica de laboratório, essa casadinha e a casa que o pai deixou para ela o outro irmão … Está formada, com a sua vida organizada e os outros irmãos? São onze irmãos, e de quem é a culpa? Não é do governo, é do homem, do homem que não assume.
Por estas razões, criei a ANGOBEFA para juventude, tenho feito reuniões de saúde e tenho estado a trabalhar com as organizações internacionais, fundamentalmente o FNUAP, a OMS e sobretudo com o Ministério da Saúde (MINSA). Ao longo do meu tempo de vida criei a ANGOBEFA, trabalhamos no Rangel, e no Marçal, quando criei associação tive muito apoio , o MINSA deu-nos o equipamento, mas tudo tem o seu tempo, hoje estou a trabalhar com muita dificuldade porque o equipamento está obsoleto, não estou a encontrar formas (gesto de tristeza).
Antigamente, fui apoiada pela IPF, não podíamos ser as fundadoras da fundação a gerir, por concursos é que eles nomeiam o director. Foi a minha desgraça, tive quatro diretores, o último roubou-me e desapareceu até hoje . Mas, o objectivo foi mesmo as reuniões, ter encontros com as famílias. Há falta de atenção dos pais, fazem um, dois , três filhos, ficam desempregados e as mães vão para o musseque Capari para fazer uma lavrinha onde pode colher uma batata doce, uma mandioca para a subsistência em casa.
Então, os conselhos não são somente para os jovens mas para os pais, para as famílias porque para mim eu dava conselhos aos pais, prefiro reunir com as famílias essa má condução da juventude. Eu fiquei viúva, casei-me, fui educada, louvo a educação, a forma como o meu irmão me orientou “as jovens do meu kimbo que vieram aqui para eu criar, digo com orgulho as cinco estão casadas as jovens que me deram de Huíla,da babá da minha filha Nucha foi a última que casou”, todas estão bem, com as suas casinhas , com os seus maridos,
Quer dizer o que eu “bebi” da minha família, eu transmiti a todos aqueles que passaram pelas minhas mãos,sinto-me feliz.
Massacre de Kifangondo e os Fachos do MPLA, 1960
Em 1960, quando foi o primeiro ataque, o Massacre de Kifangondo foi aí que nós nos engajamos porque foi em casado emu tio Liceu Vieira Dias era uma casa muito solicitada,vivia em casa da minha madrinha guinhas , era cega e a casa era muito solicitada todo mundo ia lá, branco e pretos fazer massagens
E foi em 1960-61 que “rebentou” os Massacres de Kifangando. Mas antes disso, Beto Van Dunem, Enoch, Nobres Dias, faziam reuniões de tro da cada do meu tio Vieira Dias e a partir daí nós começamo-nos a preparar para a imdnependência dos “manos cambutas”.
Os “manos cambutas” eram os angolanos que estavam na República do Congo. As heroínas como a Irene Cohen eram jovens nossas que estavam connosco aqui e influenciadas por aqueles, por isso fugiram e foi lá onde fundaram a OMA.
Os primeiros fachos do MPLA enviados pelos “manos cambuntas”, manos cambutas eram os nossos familaires que estavam na clandestinidade. Quando ela trouxe (o lançamento do leite em pó em Angola foi o leite klim) é essa lata que veio com o facho do MPLA. Faziam as reuniões na clandestinidade em casa do Liceu Vieira Dias, faziam aquela casa grande de madeira naquela casa grande, onde nasceu o Kopelipa.
Um dia desses a PIDE soube, como é que a PIDE soube que a lata tinha vindo de Brazzaville, que a lata “foi até lá a casa”? Apareceram os senhores da PIDE ,houve alguém que teve conhecimento e alertou o tio Liceu. Dentro da PIDE havia também pessoas nossas amigas, chamou-me a mim “ Rufina vem, és mais velha ( eu era a mais velha delas ,já tinha vinte e dois anos), vem, olha vai no quintal do tio Manel (do irmão dele ali no Marçal). Conhecem a Gajajeira, nunca viram uma casa de madeira com um quintalão grande? Foi ali onde vivemos muitos anos.
O tio Liceu era casado com “uma branca” e o tio Manel casado com uma mestiça, a tia Lídia, os terrenos eram deles, da Família Vieira Dias e foram feitas as suas casas.
O tio Liceu tinha mais confiança em mim do que da Nina e na Buchita “vai a casa do tio Manel chamar aquele homem para cavar um buraco fundo”. Assim, como o do cemitério com degraus “deitamos terra em cima”.
A PIDE quando lá foi procurou por essa lata, vasculhou-nos tudo, até o sofá rasgou à procura da lata com os fachos do MPLA, a PIDE era perigosa, mas nós somos mais perigosos do que eles (risos).
A meia noite ficávamos com os panfletos a distribuir , Enoch, Beto Van Dúnem, Nino N` Dongo, Amadeu Amorim, muitos jovens aqueles jovens do Bairro Operário, do Marçal estavam engajados e o cabecilha era o tio Liceu, estávamos todos ali, mas estávamos engajados. “Filho” sabe porque tínhamos aquela ânsia da independência, éramos muito maltratados pelos brancos, tínhamos aquela ânsia de sermos independentes.
Vocês estão a fazer reviver o esforço que fizemos para a independência, fomos libertados, nos libertamos porque queríamos só a liberdade “um preto por partir um copo era preso, ele vai cumprir”. Todas essas estradas foram feitas, eu vi, antes de me casar , eu morava na Maianga, esta estrada que sai da Mutamba e sobe até a Clínica do Prenda que segue até ao aeroporto foram feitas por presos “por partirem copos, amarrados um no outro com corda na cintura”, eles e que construíram estas estradas eu vi.
Quando eu trabalhava no hospital Maria Pia, aquilo tudo era capim. Havia mesmo muito maus tratos. Mas, também havia brancos bons, sobretudo os brancos que trabalharam comigo tanto na Catumbela, Benguela, Luanda, sempre encontrei doutores…, não sei se era a minha perícia ou a minha sabedoria de enfermeira instrumentista. Nunca fui maltratada, só mesmo esse que me quis apalpar, mandou-me pôr a mesa, teve que me pagar dinheiro foi corrido.
A Sociedade no Período de Transição, 25 Abril 74 a 11 Novembro 75
Com a ânsia da independência houve um ataque “o Massacre de Kifangondo”, Com a vinda das outras que vinham entrando partindo de Brazzaville,fomos aprendendo como elas viviam com aquelas populações de Brazzaville e de Leopoldville, das matas. A Tina Dibala, a Teresa Cohen tinham lá as irmãs e elas recebiam informações e como nós já estávamos na saúde quando elas começaram a entrar tivemos a ideia de preparar jangos para recebermos as pessoas que vinham de fora. Eu recebi as deslocadas de Nambuangongo a camarada Teresa Ginga, muitas mulheres que entraram por Nambuangongo, quem as recebeu aqui no Prenda fui eu que recebi a camarada Teresa Ginga e todo esse povo que veio…
Já havia muitas casas abandonadas. Eu consegui quatro casas para alojá-las, tivemos que nos juntar para construir, juntar roupas e bens, naquele tempo havia mesmo a ânsia pela independência, lençóis e pagávamos uma quota.
Nós mulheres formamos a OMA com indicações das que vieram do maqui. Criamos a OMA para apoiar todas mulheres e crianças que viessem do Maqui, assim como os guerrilheiros, criamos a OMA para isso. Por isso, apareceram a JMPLA e a OPA, fruto da experiência trazida do maqui .
Nas casas que os colonos desocuparam fomos alargando a OMA. Foi criada no Maqui em 1961 e nós já fomos recebendo notícias e por vezes elas disfarçam como visitantes, há outras como, a tia Eva Afonso do Bengo, Mariana Anapaz de Cabiri….
Onde estava no dia da Independência de Angola?
Estava em Luanda em 1975, já estava na OMA “a nossa participação era mesmo receber em nossas casas”. Com o êxodo dos colonos, vivia no Cassenda, muitos vizinhos com medo começaram a fugir e eu era uma enfermeira que fazia bem, muitos vizinhos deixaram-me com a chave de casas que eu dei a muitos colegas nossos que vieram do maqui, vivem em casas que eu dei. Por exemplo, a Joana Junqueira veio de Malange e ficou numa das casas que o colono abandonou. Quando recebíamos alguém que viesse de fora…, a Celestina que era do Sumbe desapareceu, nunca mais vi essa menina, quem apoiava as camaradas no Cassenda era a Camarada Celestina, ela e o marido, nunca mais soube deles.
Foram dando a experiência do que faziam no maqui e com base nessa experiência é assim que fomos enquadrando, fomos convidando a Tina Dibala também era nossa, a Teresa Cohen, depois cada uma partiu para outros objetivos.
Memórias Marcantes
As memórias são essas: entramos na Organização da Mulher Angolana (OMA), fomos apoiando a nossa independência, fomos criando departamentos, fomos nos posicionando, enquadrando, aproveitando a experiência que elas trouxeram do maqui. Nós temos objetivos, um é organizar a mulher. Essa tristeza que estamos a passar agora por falta de informação, falta de condução, como podemos ir a comunidade? Somente para ir falar, não interessa. Ir à comunidade, mas exigindo ,levando algo. Se tiverem uma educadora, uma pessoa que pode ficar no bairro a tomar conta dos miúdos como vigilante, não pode ficar com os miúdos só a bater palma mas tem que ser capacitado, não precisamos de muita coisa, podemos ensinar os nossos miúdos até com o carvão, algo que temos em nossa casa, mas a pessoa que está aqui que deixou de ir a sua lavra não está a ser estimulada, é isto que tenho falado do parlamento.
Pouca sorte minha, chamaram-me para dar opiniões, mas senti-me mal, não pude ir. Mandei um elemento meu, temos de levar essas experiências, para assegurar que essas mamães que estão a zungar não podem zungar levando os filhos às costas para quê e porquê? Para ajudar elas a usarem um preservativo, podem usar um método anticoncepcional para ajudar “as brancas usaram, eu usei e não me fez mal nenhum” e esse trabalho eu gostaria de fazer na comunidade.
Eu estou à espera de ir ter com a minha Secretária da OMA, eles marcam vários encontros na comunidade para levar comida, esse não é o nosso objectivo da ANGOBEFA. Ali é onde eu quero andar, onde eu gostaria de andar, na Funda, no Musseque Kapari. Realmente, se quisermos continuar, que a nossa organização peça ao nosso governo, as pessoas para fazermos uma contribuição, não precisamos que o governo dê:
“Podemos comprar uma tenda igual a esta para “a mamã pode ir à palavra porque a Rufina ou a fulana vão tomar conta dos vossos filhos”. Nós arranjamos as esponjas (colchões em esponja), cada mãe traz o seu pano, para tapar as crianças dormirem”.
Temos muita experiência, adquirimos muita experiência desde 1960, executamos. Agora, vão por jovens, a recomendação que eu faço aos jovens é “procurem as mais velhas quando tiverem alguma ideia, algum plano é quando tiverem algum plano venham ter connosco”.
As jovens podem ganhar dinheiro, a agulha de crochet que faz-se até com um pau, com junco, nem precisamos de comprar, só precisamos de alguém que nos faça a agulha do crochet.
É o apelo que eu faço, a HSA está a fazer um bom trabalho, a lançar livros, mas é preciso também começarmos a conversar um bocado com as estruturas governamentais, não sei, partidárias, não sei, com os homens?
Pedir a minha querida Marinela dentro dos conhecimentos que ela tem e eu estou aqui na retaguarda também a fazer esforço, a todos os responsáveis do nosso país, talvez no Parlamento onde estão todos os responsáveis do nosso país, onde ficam todos reunidos, talvez ali “perdi a oportunidade ontem, estava a aguardar por esta oportunidade”, o meu representante disse-me que os jovens falaram da comida, das escolas, tudo bem porque é o desejo deles, mas nao falaram da mamã que tem marido, da irmã, do namorado que a vai engravidar e não tem onde pôr o bebé.
Apelar pela necessidade de sítios, irmos nós ao encontro do campo, das mulheres, das famílias, ao encontro das mulheres no campo porque elas tem o seu ambiente, não vamos perturbar o programa delas, chegar a um bairro, a aldeia, na Funda, a kilunda, a Muxima e dizer “amanhã vamos vir aqui fazer uma palestra”, não é a experiência que nós temos.
Este depoimento foi realizado na residência da Senhora Rufina Ramos da Cruz, em Luanda, em Junho de 2023, pela equipa da Muki Produções.
Palavras chaves: Manos Cambutas| Massacre de Kifangando| ANGOBEFA|Fachos do MPLA| Comboio Operário de Luanda| Enfermeiras| Hospital da Catumbela| Teresa Ginga| OMA| Método de Destreza Manual
Transcrição do audiovisual, por Marinela Cerqueira, Agosto de 2023.