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Uma heroína da Operação de Angola – “Fuga dos Cem”, Virgínia da Graça Amorim

A estudante de enfermagem Maria Virgínia da Graça Amorim frequentou o Lar da Liga de Acção Missionária e Educacional a partir de 1957. Segundo os dados encontrados no livro de registo trata-se de uma estudante que residiu em vários locais, embora não residente a historiografia desta memória material estará incompleta se não forem incluídas as actividades extracurriculares destes estudantes universitários angolanos, realizadas em camaradagem com outros estudantes. 

Este relacionamento é um veículo para as novas gerações conhecerem a dinâmica das relações sociais e outras entre os vários estudantes provenientes das diversas missões protestantes de Angola, maioritariamente associados à Casa dos Estudantes do Império, ao Movimento Estudantil Angolano (MEA) e a Operação Angola realizada em 1962 a qual esta estudante, não interessada em política, foi uma das cem protagonistas.

A entrevistadora Judite Luvumba apresenta os objectivos da História Social de Angola (HSA) “antes de colaborar com a Plataforma HSA várias pessoas convidaram-me a dar testemunhos para estudos e livros e sempre recusei, mas desta vez alguém me falou de um trabalho interessante de uma plataforma online sobre história social de Angola onde a história de vida é contada na primeira pessoa. A fundadora editou um livro e neste processo verificou a quase inexistência da história social contada por angolanos.

Após dois depoimentos estou a participar há dois anos neste projecto de Lugar de Memória dos bolseiros missionários e um dia Marinela Cerqueira fala-me da existência de um livro onde os visitantes foram deixando assinaturas e eu noto o teu nome e disse-lhe seres uma da pessoa que pode ajudar e organizamos este depoimento”.

Depoimento realizado na Pizzaria, Praia da Areia Branca, em Lourinhã, onde fomos atendidas por um angolano com descendência santomense que se considera “retornado” e pergunta-nos se falamos umbundu, Virgínia diz-lhe “sou enfermeira, estudei aqui, vim para aqui aos doze anos, pago pelos meus pais, sou enfermeira obstetra e escolhi Lourinhã há 30 anos”, e ele diz ser filho de Avelina uma contemporânea de Virgínia, natural do Huambo. O jovem demonstra alegria por encontrar pessoas da terra, porque persiste na procura dos seus familiares em Angola, e a mãe diz-lhe sempre “diz sempre de onde vens” e como bons angolanos ligamos a Avelina para falar-lhe em umbundu. E dissemos-lhe “agora encontrarás a tua família” e nesta espontaneidade africana interagimos com o nosso conterrâneo.

Centrou o seu depoimento na Operação Angola, uma heroína desta operação também conhecida como a Fuga dos 100. Não se considera política, mas a companheira do político José João Liahuca e amiga de políticos e por isso torna público o traumático desaparecimento físico do seu esposo, não na perspectiva de história política ou dos partidos políticos angolanos, mas na perspectiva da história social dos primeiros estudantes universitários beneficiários de bolsas missionárias protestantes cuja juventude e história social é intrínseca a uma época da história das sociedades da África lusófona denominada “nacionalismo angolano” a nível organizacional levou a  formação de três movimentos de libertação nacional em Angola cuja maior realização foi a libertação do império colonial português.

Finalmente, nunca é demais recordar que a história da sociedade angolana pós independência também deve tratar da inclusão da história social destes jovens cujo desempenho social foi predominantemente político, caso contrário criar-se-ia um hiato entre a história política e a história social deste país. Uma outra dimensão da história das sociedades na primeira pessoa é a relação social com cidadãos de outros países, por isso é incontornável a inclusão de depoentes não angolanos, como é o caso desta cidadã santomense cujo desempenho na sociedade de refugiados angolanos nos Congos e mais tarde em Angola, sobretudo no sector da saúde, contribui para a saúde e bem estar. 

Introdução

Chamo-me Maria Virgínia da Graça Amorim, filha de Martinho Pereira de Amorim e de Maria Helena da Graça Amorim, nasci em São Tomé e Príncipe a 14 de Dezembro de 1936. Não levo o apelido de casada por consequência do contexto da Operação Angola não foi possível sequer pensarmos em levarmos documentos como a certidão de casamento e outros documentos que nos identificasse. A certidão de óbito do meu esposo José João Liahuca foi emitida pelo Governo do Congo apenas em 2023 e esta é razão pela qual não levo o apelido do meu esposo, durante o processo da Operação Angola foram emitidos salvo condutos falsos por embaixadas de países africanos que participaram neste processo para podermos ir para o Congo. Tenho três filhos Nendela[1] Amorim Liahuca, Vissolela Amorim Liahuca e Ekumbi Amorim Liahuca, nomes próprios ovimbundos que significam Primeira Espiga, Menina dos seus Gostos, entardecer ou pôr do sol, respectivamente. Sou enfermeira, reformada a 14 de Dezembro de 2006, trabalhei até aos 70 anos de idade. 

Estudantes são-tomenses em Lisboa (1949-1961)

Eu já estava em Lisboa, vim em 1949, tinha doze anos, os meus pais mandaram-nos estudar para aqui, eu e a minha irmã gémea Lourdes. Apanhamos o barco, passamos mal, enjoamos, mas cuidaram muito bem conta de nós, a enfermeira e o médico, deram-nos uns comprimidos para enjoos e depois era só brincadeira até chegarmos a Lisboa, em Setembro de 1949, fizemos dez dia de São Tomé a Lisboa. Desembarcamos, tínhamos família à nossa espera, a família materna, meu nome é Maria Virgínia da Graça de Amorim. O meu falecido tio, Dr. Dias da Graça era irmão da minha falecida mãe Maria Helena, estava casado com uma caboverdiana, a Dona Áurea, a que chamávamos tia-mana, residimos na Estrela, Rua Dr. Teófilo Braga nº 25, com esta família.

Lá vão as belezas de doze aninhos, cheias de frio, em Setembro, vestidinhos todos bonitos, feitos pela mamã, iguais aos casaquinhos e a tia trouxe umas mantas, porque já sabia como iríamos chegar a Lisboa, desembarcamos e lá fomos para casa.

Estudantes africanas do Colégio Nossa Senhora da Bonança (1949-1953)

O colégio era em Vila Nova de Gaia, Colégio Nossa Senhora da Bonança, para onde os santomenses normalmente enviavam as filhas para prosseguirem os seus estudos. Estávamos todas lá, a Joana, a Marina Santiago e a Alice Menezes, todas estudavam ali e então o papá pôs-nos todas ali. Como eram mais velhas ajudavam as freiras a cuidar das mais novas. Até hoje existe, no meu tempo, em 1949 era internato e externato e nas férias íamos para a casa da tia-mana.  Fizemos aqui a admissão ao Liceu e estudamos até ao terceiro ano.

Na passagem do 4º ano para o 5º ano, como tínhamos exames fomos para o colégio em Parede, a tia-mana disse-nos que já estávamos crescidas e podíamos ficar mais próximos. No entretanto, passamos por Santarém. Eu tive um episódio no colégio porque a Madre bateu-me com a régua e eu peguei na régua e bati a Madre, revoltei-me, adolescência! “Não tens nada de me bater, quem bate é o meu pai e o meu pai não está cá e nem a minha mãe”. “Oh pai tira-nos daqui porque aqui gostam muito de bater”. Fomos para o colégio das Bafureiras, as Madres franciscanas eram mais liberais, não havia aquelas regras rígidas, indumentárias, etc. Estivemos neste colégio entre o 3º e o 4º ano.

A seguir, fomos para o colégio em Parede onde fizemos o 4º e o 5º ano, fizemos no Liceu de Oeiras. No entretanto, quando chega a altura das provas, como éramos gémeas “éramos cara chapada”, a minha irmã faz primeiro as provas por se chamar Lourdes e eu a última por me chamar Virgínia, e o professor começa:

  • tu quem és?
  • eu sou a Virgínia 
  • e a outra?
  • a Lourdes, já fez exames
  • mas, vocês são muito parecidas
  • somos gémeas!

Ele desata-se a rir e então diz:

  • isto é uma brincadeira!
  • pois é! Somos parecidas, o senhor professor tem razão

E depois começa a prova de matemática e começa por geometria diz-me:

  • olha ali para aquele cantinho
  • aquele cantinho está cheio de teias de aranhas

Ele desata-se a rir, não faz a pergunta, não faz nada, e foi para o quadro, todos desatam-se a rir, ganhei (sorrisos)

  • para já é um rectângulo, mas está cheio de teias de aranhas.

Era verdade!

Passei de ano e um certo dia pergunto a mana Lourdes:

  •  oh mana Lourdes, o papá é que está a pagar os nossos estudos, é um sacrifício, já viste que aqui é tudo caro, embora em escudos, mas é muito caro! Eu pensei fazer um curso médio e se eu quiser continuar a estudar continuo a minha custa, já não vou por o papá a pagar”
  • eu concordo, olha eu quero ser professora
  • eu quero ser enfermeira.

Escola de Enfermagem Rockfeller

É assim que aparece em 1955 o meu nome na Escola de Enfermagem Rockefeller, que hoje é a Escola Nacional de Saúde, Instituto de Oncologia, faço o 1º ano e depois falo com a directora:

  • olhe, eu tenho ideia de ir para África, quando acabar o curso eu vou para São Tomé, aqui é só cancro, oncologia, mas na minha terra há outras doenças, há obstetrícia, e há pediatria, há outras necessidades.
  • muito bem.

Vamos estudar, entretanto as aulas começaram em Setembro e a Casa dos Estudantes do Império (CEI) tinha sempre reuniões, actividades e nós frequentámos e é aí que eu conheço o Sobrinho e os outros angolanos que depois vêm apresentar o José João Liahuca. Em Dezembro havia uma festa de natal ou do fim do ano.

Qual é a diferença entre a CEI e a Hospedaria da Liga?

A CEI é a associação que ficava no Arco do Cego, onde todos os estudantes das antigas colónias se encontravam, na altura era a Casa das Colónias, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Timorenses que na altura vinham poucos, eram mais os de Goa, Damão e Dio. Não era internato, realizavam-se conferências, festas, jantares, almoços, carnavais, danças e outras actividades. O Lar “Alameda da Linha das Torres” ficava no Lumiar e recebia os estudantes que vinham das Missões. Então, todos os que tinham a bolsa missionária, como o Calvino, Liahuca, o Silvio, o Sobrinho e o Desidério (…), o Daniel Chipenda também esteve, mas depois foi para Coimbra, mas continuou a ir ao Lar ter com eles. Não conheci o José Chipenda, conheci também o Teodoro Chitunda e muitos mais.

Namoro, Década de 50

Eu conheci o Liahuca em 1955, apresentado por Pedro Sobrinho, irmão do Paulo Silvio de Almeida, o Desidério Veríssimo da Costa e ainda um outro sobrinho, e ele diz-me “Virgínia temos um colega, um amigo…”. O Sobrinho apresentou-me o Liahuca, naquele dia conversamos. Depois, começamos a ver que o Liahuca estava com um certo interesse, mais em mim e a mana Lourdes diz:

  • ele olha muito para ti
  • mas, ele também olha para ti
  • mana, mas olha muito para ti
  • vamos fazer-lhe uma partida.

Então, um dia ele convida para eu ir lanchar com ele à pastelaria Suíça, em Lisboa e eu digo para a minha mana Lourdes:

  • prepara-te que tu é que vais!
  • eu?
  • sim vamos ver qual é o interesse.

Ela não foi sozinha, eu também fui. Ele cumprimenta a minha irmã Lourdes, e diz:

  • tu és a Virgínia!

Reconheceu-me e a minha irmã comentou baixinho:

  • tens razão, convidou, mas o chá é mais para ti

Fomos vestidas de igual, mas o chá era para mim, pensei “para não dizer que vou sozinha, vamos as duas”. Foi um belo chá, comemos pastéis e depois levou-nos até à residência que recebia as meninas onde estávamos a estudar.

A Rockefeller não tinha internamento. Pedi a transferência e deram-me, acabei o primeiro ano no Hospital Santa Maria, entretanto abriu a escola de enfermagem em 1956/57 onde faço o 2º e o 3º ano de enfermagem.

O Liahuca era uma pessoa muito selecta, sempre bem vestido. Depois do chá fomos para casa e diz a mana Lourdes “olha, que ele é um bom rapaz”, estava a estudar o 3º ano de medicina.

Começamos a namorar em 1956, aceitei o namoro, ele escreveu ao nosso pai a pedir (antigamente era assim), e o meu pai disse, “mas é para brincadeiras ou é para casar? As minhas filhas não são de brincadeiras”, ele respondeu “pode ficar descansado, a sua filha tem modos, é uma senhora, ando a procura de uma senhora do estilo dela”.

Havia tanta gente ali e eu é que fui escolhida (compartilhando seu raciocínio na época). Uma vez o Sobrinho disse:

  •  lembrei-me de vocês, vocês são selectivas…
  • Aí lembraste-te, não viste mais ninguém para te lembrares?
  • estamos com problemas de meninas.

Ele não se importou que fosse católica?

Ele dizia “a religião, Deus é só um, tu gostas do teu sentimento”. Eu no entretanto disse-lhe “como és presbiteriano (naquela altura) eu não me importo, vou frequentar a tua igreja, não tens problemas comigo, já sou batizada, não preciso de ser batizada”.  Frequentei a igreja, casamos por igreja, na Febo Moniz.

Continuando, este grupo todo da “Alameda da Linha das Torres”, era do grupo coral que cantava nos cultos aos domingos, recordo-me da Mimosa, outra que frequentou os estudos sociais e depois esteve na Suíça com a minha irmã Maria Amorim, a Idalina Bamba, (tenho uma foto de casamento onde está este grupo). (solicitar a foto).

Casamento, 1960

E assim foi o casamento, primeiro o civil e depois o pela igreja realizado pela família missionária Scott, eles é que nos casaram. O meu pai veio ao casamento. Os Scotts trataram da papelada, na época éramos todos portugueses, já tínhamos bilhete de identidade. O casamento no registo civil foi dia 8 de Agosto e pela igreja dia 9 de Agosto, saí da casa da minha tia muito bonita.

Alugamos uma casa, na rua da Beneficência, ao fundo da rua morava o Vieira Lopes e a Gina Vieira Lopes, em frente a nós estava o Carlos Graça e a Idalina Bamba que também já estavam casados e foram meus padrinhos de casamento.

Continuei a estudar, acabei o curso em 1960 e ele ainda estudava medicina. Quando ele foi a Coimbra fazer uma cadeira, conheci o Chipenda. Foi lá que eu também conheci o sistema de estudantes de capa e batina, Lisboa não tinha. O Liahuca tirava sempre muito boas notas, acima de dezoito. Era uma pessoa muito calada, tinha o seu feitio e saiu ao seu pai, ao Gonga. Se não tivesse de falar estava a ler, ou a estudar, a consultar que filme iríamos ver.

A Participação na Operação Angola,1961

O que nos “estragou” a vida foi a saída de Portugal. Saímos daqui em umas condições… tivemos de deixar a casa, deixamos tudo, a fingir que voltamos. Mas no entretanto, tínhamos a PIDE a perseguir-nos, tinha posto aparelhos de escuta no andar de baixo para ver se descobria alguma coisa, mas não descobriram nada, o andar de baixo estava vazio.

Eu só disse “o que tu fizeres eu sigo, sou tua mulher” e a mulher naquele tempo pouco mandava, pouco mandava ou pouco decidia. Estava grávida de oito meses do Nendela, “há que preparar as coisas, o saco, só levei pouca coisa, umas peças e a roupa do bebé. Preparada para cortar o cordão umbilical, eu já era parteira, estava a fazer o estágio na Maternidade Alfredo da Costa e felizmente nem assim o rapaz saiu (referindo-se a agitação)!

Fomos presos a atravessar a fronteira de Eron em Espanha para entrar em França, mandam-nos para a cadeia em San Sebastian. Fomos soltos Graças a Deus, os americanos que estavam a organizar “a coisa”, parece que era tudo a base da igreja, foram falar com políticos, naquela altura era o Franco e disseram-lhe:

  • se vocês os mandam para lá vão ser mortos, já viu, mais de cem pessoas, há uma mulher grávida no grupo
  • ok, saiam e que tudo corra bem.

No dia em que saímos foi uma festa!

Saíram os 100?

Saímos os 100! A festa foi um jantar no hotel, apresentam-nos comida francesa, rosbife, eu disse-lhe (referindo-se ao esposo):

  • eu não vou comer isso
  • come só um bocadinho, é bom, está tenrinho, vou pedir para passar mais um bocadinho
  • ok , pode ser.

Passaram melhor o rosbife, acompanhado de puré de cenoura e salada, comi, era uma delícia. No final do jantar “agora, vamos para o quarto dormir” porque de manhã tínhamos de apanhar o comboio.

Correu tudo bem! Já estavam à nossa espera desde o dia 29, só chegamos dia 3, ficamos na CIMADE[2] com um grupo angolano. Olha, não sei o que se passou por lá “uma semana depois desapareceram todos”, só ficou o Liahuca, o Carlos Graça e mais alguns, todos tinham desaparecido. Diz-me o Liahuca:

  • não está cá ninguém
  • onde é que estão?
  • não sei deles
  • estava à procura do Vieira Lopes não o vi, estava a procura do Videira, não o vi

Estava a procura dos colegas médicos, não estava ninguém!

  • e agora?

O bebeu nasceu em Versailles, no dia 29 de Julho, cesariana, às sete horas da noite, de 1961. Como nem tudo é mau, o Liahuca disse:

  • eles estão… primeiro nós saímos sem partido, agora criaram um partido, foram para o MPLA, olha eu vou para a UPA
  • e tu conheces isso?
  • não conheço
  • vamos para lá, para Kinshasa, vamos para os Congos
  • isto é onde?
  • os Congos do Lumumba
  • ok, isto deve ser bom.

Pensei, sair de um país para outro, pode ser pior.  Este foi pior! Chegamos em Outubro, o filho tinha acabado de fazer três meses e devido a altitude dos aviões sensível para recém nascidos tivemos de aguardar para sermos autorizados a viajar.

José João e Maria Virgínia em Kinshasa (Outubro de 1961 – Julho de 1964)

Fomos para Kinshasa onde conhecemos o Holden Roberto. Passamos mal, passei mal, queriam matar o Liahuca já nesta época. Tive de pedir ao MPLA para nos tirar daí. Tivemos de fugir, estava outra vez grávida como sempre (risos) do Nendela.

Três anos depois, em 1964, engravidei da Vissolela e neste ano entre Julho e Agosto também tivemos de fugir à noite, em uma canoa, atravessar o rio Zaire, cheio de crocodilos. Saímos de uma zona escondida no rio Zaire próxima à Kinshasa, às escondidas, tudo combinado, sem o Holden Roberto saber porque o Liahuca ia sendo preso entre os meses de Maio e Junho. O Holden Roberto mandou soldados a casa, à meia-noite, para levarem o Liahuca. Eu estava ainda na cozinha, ele já estava deitado e os miúdos no quarto. Oiço bater à porta, à meia noite e pensei que devia ser um doente ou alguém que vinha chamar o Liahuca. Abri a porta! muitos soldados:

  • Vocês vão aonde?
  • Doutor, doutor?
  • Doutor, il est sorti, il est allé voir un patient, revista dos quartos? aqui não há revista nenhuma, quem manda sou eu e não é hora de virem, sou a dona de casa!

Fecho a porta do quarto onde estava Liahuca com os miúdos, fecho a porta, salto a janela e vou ao Ministro do Interior bater-lhe à porta. 

  • Sr. Ministro do Interior, há uns indivíduos em minha casa que querem prender o Liahuca.

O Ministro vem em pijama, entrou pela mesma porta por onde eles entraram:

  • Monsieur le Ministre c’est Monsieur Holden Roberto que nous a dit de venir ici pour detener le Doutor
  • mais qui vous a donné l’ordre, Holden Roberto il est  un citoyen, oui! Mais qui l’ y a donné l’autorité? Tout le monde dehors, vite, sinon ce vous que j’allais vous mettre en prison
  • madame excusez moi, excuse moi…
  • (je dit) mais vous le savez?
  • mais non, comment avez-vous eu l’idée de m’appeler? Vous êtes intelligent madame.
  • (et je dit) je ne suis pas intelligent, c’est le bon dieu
  • vité
  • aussi, aussi.

E assim salvei o homem. No fim de Julho saímos de lá com a ajuda do MPLA, livrei-o, e vamos para Brazzaville.

Ele acabou por acordar?

Ele estava a ouvir tudo a porta estava fechada. Quando todos foram embora, o Ministro ficou a falar, abri a porta, agradeço e diz o ministro:

  • Vous avez le bonne femme Monsieur, notre femmes ici, personne allez faire quelque chose, elle êtes intelligent!
  • Eu conheço-a bem (diz o Liahuca).

Choramos, choramos, choramos, e a seguir eu pergunto-lhe:

  • Mas o que é que tu fizeste, para que eles te quererem prender Zè, só temos dois filhos, o que é que se passa?
  • é porque eu recusei ser Ministro da Saúde da FNLA (quando formam aqueles governos) (gestos)
  • o quê? Ministro do quê? Onde é que está o governo, nós estamos onde o Governo está, em Leopoldville.

Naquela altura o presidente era o Mobutu, tinham matado o Lumumba, eles já tinham decapitado o Lumumba (e metido no ácido úrico), digo-lhe:

  • nao sei o que te iam fazer, decapitar não vai ser, mas não seria coisa boa, o Holden é (…), agora, desculpa, mas vamos sair daqui!
  • oh mulher fazes o que tu quiseres
  • não é “faz o que tu quiseres”, prepara-te, vamos sair daqui, não te preocupes com os bens, nós nascemos e deixamos, já deixamos bens em Lisboa. Não te preocupes em levar nada porque levar bens chama a atenção (a frente de nós morava um casal Rosário Neto, a esposa era costureira, mestiça)
  • nós temos de sair daqui sem eles se aperceberem de nada!

Então, vou falar com os médicos, com o Videira e o Vieira Lopes, fui ao escritório deles, contei o que aconteceu e disse-lhes “tirem-nos daqui vocês podem ficar, mas o Liahuca não vai ficar aqui e se ficar é um homem morto”, e eles “nós percebemos”. Arranjaram-nos refugiados que serviam de policiais que protegiam o Liahuca a distância, ele não podia mostrar nenhuma desconfiança.  Na noite do dia 4 de Agosto fugimos em um barquinho até Brazzaville onde estava o Agostinho Neto e a Maria Eugênia, ficamos com eles quinze dias até arranjarmos um bom sítio onde vivemos, arranjaram-nos um bom sítio onde residimos até 16 de Agosto de 1964, data de nascimento do meu filho Ekumbi, nasceu às 20h30. E assim consegui proteger o meu marido.

Depois, ele por opção disse “vou deixar esta vida política”, eu disse-lhe “tu é que sabes”. Porque as mulheres naquela época, mesmo que falassem, os homens não ouviam, porque se ele ouvisse nem tínhamos saído de Portugal e eu fiquei com os três filhos, assim…

O desaparecimento físico do Dr. José João Liahuca (24 Set 1974)

No entretanto, ele tinha aquela “mosca política”, o Hugo de Menezes começa a juntar um Grupo, o Chipenda… e carregam-lhe até a Zâmbia para tal conferência de Lusaka “eu nem sei o que se passou aí”, apenas soube ter sido insultado. Não contou nada, veio despenteado, vinha como um louco, ele não contou nada!

A princípio a família dizia que a esposa não queria contar nada?

Eu fiquei sem saber o que aconteceu até hoje!  Ele é que não contou o que se passou, mas, segundo eu ouvi dizer, insultaram-lhe, por ele querer ir para o grupo de Chipenda, (eu nem sabia) porque o Chipenda tinha feito cisão. Quando chegou da reunião já não era gente, sujo, não se penteava, não se arranjava, eu dizia:

  • o que é que se passa, vamos ao médico, eu noto que estás depressivo, eu também sou profissional de saúde

(e ele respondia) eu sei me cuidar.

Isto foi entre Agosto e Setembro, e suicidou-se, envenenou-se com morfina no dia 24 de Setembro de 1974, em uma segunda-feira à noite.

Ele levou os miúdos para Saint Couture, enquanto eu estava na aula de yoga, saiu, levou os filhos e fomos para casa. Eu cheguei, tomei banho, pusemos a mesa, jantamos todos a conversar “numa boa”. Ele não deu um sinal de que ia fazer algo. Às 23:30 deitei-me e como tinha de ir trabalhar no dia seguinte, deitei-me. Uma hora atrás tinha deitado as crianças. Um pouco antes da meia-noite, oiço um barulho na porta, ele deita-se e diz:

  • liga o ar condicionado, liga o ar condicionado, está muito calor, liga, liga…
  • não está calor nenhum
  • liga, liga, liga

Acendo a luz da cabeceira:

  • mas, o que é que se passa, estás doente?
  • não tem calma!
  • calma o quê?
  • estou com calor, apaga a luz e deita-te!
  • apaguei a luz, deitei-me

Ele começa a falar:

  •  tudo o que fica é teu
  •  tudo o que ficar, o quê?

Acendo a luz, começa outra vez e pus-me a escutar o coração dele. Salto da cama e chamo o médico da Caisse de Surveillance, onde ele trabalhava quando chegamos estava morto e eu mão na cabeça, “kidalé!”

Eu só disse para mim: “Senhor, se algo fiz que é errado, tu és o justo, tu és o que castiga, estou pronta para tudo. Mas, esse foi duro, mas vou aceitar, porque tenho três filhos, um com treze anos, outro com quase doze e o outro com dez e eu tenho de tomar conta deles, dai-me cabeça, ajuda-me e deixa-me chorar, eu só (comoção). Eu só posso (comoção). E estou aqui até hoje, fiz tudo que eu podia fazer para eles, mas até agora eles olham por mim, reconhecem a mãe que têm, são meus amigos, não tenho nada assim (gesto) que me queixe de uma coisa e eu tenho a minha consciência tranquila.

Depois, pensei “não te vou enterrar fica descansado, eu assumo o teu corpo”, o empregador mandou embalsamar o defunto, fizeram o necessário até Angola ficar independente “para eu levar o teu corpo para os teus pais”. Morreu a 24 de Setembro de 1974.

Ele já estava para regressar a Angola depois da abertura das fronteiras?

Eu não sabia de nada! O que eu sei é que ele trabalhava para os congoleses como médico da Caisse de Surveillance, era muito considerado, muito estimado. Tive tudo, tudo que eu pedi eles fizeram, não o enterramos, guardamos o corpo para quando tivéssemos oportunidade trazê-lo, embalsamaram, guardaram o corpo para quando tivesse oportunidade eu trouxesse o corpo para Angola. Eu não sabia de nada.

Vim para Angola em 1975, vim trazer os miúdos, deixei os miúdos com os pais do Liahuca, a D. Sofia e o Gongá, meus sogros e vou para Brazzaville tratar da urna, embalar o que poderia embalar para trazer “perdi tudo, só não perdi a urna porque eu é que trouxe a urna, perdi todos os meus bens, não apareceu nada”.

Quando fugiram da CIMADE ninguém disse nada a Liahuca (considerada uma traição), o Liahuca ficou tão sentido! Depois, foi reconhecido, porque está escrito em um livro “há uma pessoa que eu poderia ter falado e não falei”.

Há uma rua com o nome dele no Congo, “Dr. José Liahuca”, a minha neta e a minha filha foram à cerimónia.

Quer dizer que os angolanos refugiados contribuíram para o desenvolvimento social de comunidades nos Congos, como a ajuda da família José e Virgínia Liahuca ?

O Liahuca deu muito, consultava todos angolanos e congoleses, a minha casa era um consultório. A PIDE foi a Brazzaville (eu não ouvi a conversa), dizer-lhe: Liahuca vem para Portugal, sai daqui, devido a fama de bom médico. Eu também tinha fama, éramos bons técnicos. Trabalhei durante 13 anos no Caminho de Ferro do Congo até ir para Angola. E os franceses disseram: mais vraiment… estamos com uma enfermeira obstetra “de tirar o chapéu”, nem as nossas, ensina as mães a cuidarem de si e dos seus filhos.

Enfermagem em Angola (1975-1993)

Perdi tudo, em Portugal, em França, em Kinshasa. “Eu tenho mãos para trabalhar”, fui para o Lobito um mês onde residi em casa do Cunhanga e do Dr. Saldanha, cirurgião e sobrinho do meu esposo e depois comecei a minha vida no Huambo sem nada “só com a boca e as mãos”. Começaram, na secretaria e as colegas diziam “ela diz que é enfermeira, isto aqui é “cambalacho…” e eu fazia de conta que não estava a ouvir nada.

Tudo que eram partos complicados chamavam-me e eu resolvia. No entretanto, escrevi para a minha irmã em Lisboa para me tratar dos meus diplomas, depois de seis meses os diplomas chegaram. Apresento-me na secretaria com os diplomas “uma levanta-se: eu não vos disse que ela é diplomada, e olha está aqui o diploma e olhem as notas”. No Huambo trabalhei com a Chiteculo, a Rebeca Valentim, a tia Trindade Graça e com um grupo de colegas da escola de enfermagem.  Estive com o Dr. Chicoa, com o enfermeiro Ribeiro Chiteculo, a Caposso e o marido, a Miraldina Jaka Jamba e a Isabel Pitra, família muito amiga dos meus filhos. Depois, um grupo sai sem eu saber e vai para a Jamba, mas um grupo que era do MPLA ficou no Huambo, como a Caposso.

Uma colega disse-me “eu fiz um trabalho para si, olhe que falaram muito de si aqui, fui ver todos os seus trabalhos, você não tem um nado morto”, respondo “não tenho e não tenho que ter, as mães vêm aqui para serem cuidadas não é para as deixarmos morrer” e eu calei-me, estão aqui os meus papéis, vou trabalhar. Daí começou a promoção, enfermeira chefe da sala de partos e consultas e depois fui para a maternidade, para consultas, sala de parto e eu disse:

  • o que é que passa, vou ficar com a obstetrícia toda?
  • vai, a senhora é capaz, confiamos em si.

Comecei a “pôr a mão”, havia pessoas de Luanda a vir parir ao Huambo, devido a fama da Maria Virgínia, trabalhei com o falecido Dr. Agostinho.

No regresso a sua casa, apresentamos desculpas por termos mexido numa ferida dolorosa “Quando é a mulher, logo se sabe, a alguém que vai contar. Regressei a Brazzaville, a Marie Julienne morreu a pouco tempo e sempre se deu bem comigo”.

Enfermagem em Lourinhã (1993- 20xx)

Em 1993 cheguei a Lourinhã, houve muitos acidentes cardiovasculares, falei com a enfermeira chefe e fui para o Vale do Tejo, para a IRS, e têm a prova da competência da Virgínia. Vim fazer o mesmo trabalho em Lourinhã quando cheguei em 1993, depois fui para assistente. Por exemplo, quando uma vizinha deu à luz, saiu do hospital com as mamas encaroçadas, o hospital velho era aqui ao lado da casa onde vivo agora, disseram:

  • ouvi dizer que está aqui uma enfermeira nova, a Virgínia, quero falar com ela
  • ela está a sair, mas está bem, eu vou falar com ela
  • Virgínia tens uma senhora que quer falar contigo

Estava a vestir-me e não me despi, vim ter com a senhora

  • eu preciso da sua ajuda
  • precisa da minha ajuda?
  • é parteira, não é?
  •  sou
  • é que a minha filha saiu do hospital com as mamas encaroçadas
  • vou já

Pedi a enfermeira Marlene para tomar conta das minhas coisas. Disse “Deus é isso, não é?”, Chego, comprimento a parturiente, o bebé estava “na bolsa”, ela estava vermelha:

  • está com febre?
  • deve ter
  • o termómetro é que fala, olhe está com quase 39º
  • tem óleo de amêndoa doce?
  • tenho
  • É só isso que eu preciso.

A mãe vai buscar o óleo de amêndoa doce. Sentei-me, apalpei o peito e disse agora pode tirar a cadeira, agora vou trabalhar. Fiz quatro massagens em uma mama, o leite começou a jorrar, fiz três na outra mama e fiz mais duas massagens em cada mama. Despedi-me dizendo “se houver um problema, telefone”. Até hoje, quando a senhora vê alguém a cumprimentar-me diz “essa senhora vale ouro, ninguém me ajudou, mas ela ajudou-me”. Hoje já não sabem o que é uma massagem na mama, é com a bomba e é pior.

A Judite Luvumba comenta “quando contam os factos, não dizem que os angolanos imigrantes vieram colaborar” e a Virgínia responde “nunca vão falar de nós como colaboradores, o único serviço que me reconhece é o Centro de Saúde de Lourinhã, no dia da inauguração tive lugar de destaque”. A seguir mostrou álbuns onde preserva recordações do Centro de Saúde, entre os quais fotografias numa das quais está alegre no dia de Carnaval a enfeitar o cabelo com um colar de contas coloridas, provas de dedicação e de reconhecimento mútuo. As recordações foram fluindo: “Trabalhei até aos 60 anos e também trabalhei no lar de idosos Nossa Senhora da Guia”.

 Família e Descendência (Posicionar no início)

De regresso a sua casa partilhou a magia de ser bisavó, “dantes fazíamos esse caminho a pé até a praia, fui a pé à praia com os miúdos, com os meus filhos e com os meus netos, cresceram comigo, a Sofia e o Henrique, todos frequentam esta praia e os netos passavam as férias com a avó, não tive nenhum a queixar-se por vir à praia a pé, pelo contrário.  Ainda caminho na ciclovia até a praia, quando há muita chuva e vento não venho “.

Estou a aprender alemão com ajuda de um neto e jogo diariamente o contexto “ontem a palavra era – trilho”, frequentemente acerto a palavra do dia.

A amizade com os missionários descendentes de Gilchrist

Eu e os meus filhos mantemos o contato com os filhos de Gill e Joyce Gilchrist,ele e a mulher também estiveram em Brazzaville onde trabalharam com o Liahuca antes, eram missionários Canadianos. A Fundação Gilchrist[3]tinha o nome deste missionário. Os netos preservam o contacto (tenho cartas e postais de Natal) e do casamento do Erim.

Eles organizaram os estudantes e organizavam as fugas[4].

Há alguns anos enviaram um exemplar da versão inglesa do livro de Eva Chipenda “One African Woman…” (enviado com uma carta e fotografias). Em uma das cartas de 2008 diz estar a escrever um livro sobre o ancião Gonga (pai de José Liahuca), e diz que quando estiver concluído enviará.

Carta enviada à Virgínia Liahuca

Memórias do Lar da Liga da Acção Missionária e Educacional

O Lar tinha um livro de registos e é preciso confirmar onde os estudantes residiam anteriormente?

Eu não frequentava a “Alameda das Linha das Torres”, fui algumas vezes porque o Liahuca me levava. O falecido José João Liahuca falava dos primos, da Deolinda e do Roberto de Almeida, e trabalhou com o missionário canadiano Gilchrist. Quando comecei a frequentar havia uma colega dele que eu até cheguei a pensar que iria casar com o Liahuca. Pelas fotografias recordo António Espírito Santo, santomense (se for ele, pertencia a outro grupo). Conheci a Ruth Neto e a minha amiga Idalina Bamba, a Eva Chipenda, Teodoro Chitunda, António Espírito Santo, Orlando Dias da Graça, irmão da tia Trindade e depois mais tarde é que vieram outros estudantes, havia uma família Neves, oriunda de São Tomé que enviou uma jovem. A Guida Chipenda e a irmã estavam no colégio quando estávamos lá a estudar, ainda é viva. Recordo também o Manuel Bual, um médico muito amigo do Liahuca, quando fugiram ele escreveu no jornal “tenho um grande desgosto de não ter dito nada ao Liahuca” (isso eu li no jornal por ocasião dos 50 anos da Operação Angola). É angolano, casado com uma caboverdiana. Soube da morte do Reverendo José Chipenda, enviei as condolências.

Este depoimento foi realizado na Pizzaria, Praia da Areia Branca, em Lourinhã, no dia 29 de Fevereiro de 2024.

Memória documental

Este depoimento pode ser documentado com fontes secundárias conservadas em álbuns, para além de fotografias, estão entre os documentos cartas, postais, bilhetes de viagens, etc.

Realização: Judite Chimuma Joaquim Luvumba

Transcrição: Marinela Cerqueira e audiovisual

Palavras Chaves: Fuga dos Cem| José João Liahuca| Lar da Liga de Acção Missionária e Educacional| Manuel Bual| João Vieira Lopes| Virgínia Vieira Lopes|


[1]A saga da família angolana. A guerra em Angola começou há 40 anos, em 4 de Fevereiro de 1961. Em Junho desse ano, Nendela fugiu de Portugal para França na barriga da mãe. Nasceu em Julho, em Versalhes, filho de José João Liahuca, médico formado em Lisboa, e de Maria Virgínia Graça Amorim Liahuca, estudante de enfermagem. Faziam parte de um de três grupos de estudantes africanos que, nesse ano, bateram com a porta da capital do Império. Seria um escândalo, se a Censura deixasse passar a notícia, mas foi, mesmo assim, uma bofetada na cara do regime.

[2]Decolonisation (1945 – 1966) A regroupment center in Médéa © Cimade At the end of the war, many countries were inspired by decolonization movements which gained more and more popular support and ultimately led to national independence in the 1960’s. The Cimade began to work almost exclusively with the Third World. They set up a team of helpers in Dakar and also helped war victims in Algeria, with teams working in regroupment centers where thousands of inhabitants who had been forced to leave their villages could find shelter. When Algeria became independent a NGO took over from the Cimade.https://museeprotestant.org/en/notice/the-cimade/

[3] Actualmente chama-se Angola memorial Scholarship Fund.

[4] Exemplo de conservação de relações sociais e amizade entre descendentes de missionários e os estudantes com bolsas missionárias. 

Casamento de Virginia da Graça Amorim e José João Liahuca, Igreja Presbeteriana na Rua Febo Moniz, Lisboa 1958 (fotográfo, Domingos Calvino)
Coro dos Estudantes do Lar da Liga de Ação Missionária e Educacional (fotográfo, Domingos Calvino)

[1]